sexta-feira, 26 de outubro de 2012

30ª Bienal - Primeiras Impressões



Meu filho Heitor curtiu a obra da alemã Katja Strunz!


Tenho lido bastante sobre arte contemporânea, buscando cada vez mais referências, acreditando estar me aproximando de um entendimento verdadeiro acerca do assunto. E pelo que posso entender, um excelente ponto de partida (que sugiro a todos) para um convívio adequado com as obras que compõem nosso cenário artístico é abrirmos mão da ideia de arte que vigorou desde o Renascimento até o último suspiro do Modernismo e da qual, de forma geral, sentimos dificuldade de nos desvencilhar, a saber, aquela noção desenvolvimentista que aponta um tipo de arte como melhor que o seu predecessor, ou ainda, como a Arte Definitiva. Uma ideia que traz em seu cerne um louvor ao apuro técnico, à originalidade do artista, à obra de arte única e, finalmente, à autonomia da arte, apoiando-se normalmente no binômio pintura-escultura.

Toda esta teoria em absorção me leva a compreender que, passada a era dos manifestos, não faz sentido esperarmos uma definição rígida e excludente para a arte. Uma vez que não há por que proclamar determinado modo como o modo certo de se fazer arte, toda e qualquer experiência pode reivindicar para si o status de arte. Como insiste Arthur Danto, a Pop Art trouxe à tona a autoconsciência filosófica da arte, que não mais precisava sair a busca de definições – o que foi ratificado pelos artistas conceituais como Joseph Kosuth, que assumiam cada nova obra de arte como uma definição em si – garantindo assim uma liberdade sem precedentes que implicou na multiplicidade de práticas artísticas não excludentes entre si. Uma bela pintura à óleo pode conviver com vídeos e readymades sem o menor constrangimento.

Aprendi com Leo Steinberg que em face de novas formas de arte devemos adotar novos critérios de apreciação. Inúmeros autores afirmam que a estética não está mais no centro da prática artística. Hans Belting e Arthur Danto enxergam que estamos em um momento que a arte se desvinculou da história, não precisando mais se apegar ao que o último chama de narrativa mestra. Já li que a arte não tem necessariamente que ser expressiva, educativa, política, subjetiva, contemplativa, provocadora ou o que quer que seja. Mas, ao mesmo tempo, pode ser tudo isso. Mais do que nunca a assertiva de Jorge Coli de que “dizer o que seja arte é coisa difícil”, parece a melhor definição possível. Em síntese, devemos esperar tudo quando vamos a uma mostra de arte contemporânea.

Contudo, nenhuma teoria foi capaz de me preparar, de fato para a prática. A 30ª Bienal de Arte de SP trouxe o que a meu ver é a característica central da prática artística contemporânea, o caráter plural e aparentemente inesgotável das poéticas.
monumento meio enterrado à deriva continental, de Thiago Rocha Pitta
Preciso ser sincero, minhas três primeiras visitas – que me possibilitaram chegar ao primeiro quarto do segundo andar, ainda assim pulando alguns vídeos para serem visto em uma próxima oportunidade – se mostraram uma experiência maravilhosamente sofrida. Posso contar pouco mais de uma dúzia de artistas que despertaram em mim a impressão de estar diante de obras de arte, seja devido a meu gosto pessoal pelo desenho, como no caso de Eduardo Stupía, ou pela ironia e sagacidade de uma Ilene Segalove, pelo misto de deslumbramento, estranhamento e inquietação causado pela obra de Icaro Zorbar, o impacto causado pelo monumento meio enterrado – amplificado por seu posicionamento estratégico – de Thiago Rocha Pitta, que nos remete de imediato a um vislumbre do poder da natureza, ou pela inteligência política e social das células de Absalon e o caráter instigante das obras Juan Luis Matínez, entre alguns outros. A maioria das obras ou não me inspiraram o menor desejo de contato ou se mostraram desinteressantes depois de frustrantes tentativas de diálogo. E não por eu estar esperando me deparar com cristos crucificados, girassóis ou damas exaustas do Moulin Rouge. Fui à Bienal livre de preconceitos e pronto para experimentar o novo.

Algumas obras, independentemente de qualquer teoria, simplesmente não me inspiraram confiança, principalmente após ler o breve resumo das ideias do artista afixado na parede. Muitas me pareciam forçadas mesmo.

Vale ressaltar que esta é apenas a minha primeira impressão, e que adotei como estratégia de investigação e descobrimentos, fazer uma sequência de visitações guiadas por um contato desprovido de informações prévias, contando apenas com o que estiver disponível no próprio espaço expositivo, para depois fazer uma pesquisa sobre alguns artistas – os que mais chamaram minha atenção, positiva ou negativamente – e na sequência experimentar algumas visitas guiadas.

Seja como for, já pude perceber que quer os artistas, individualmente, tenham alcançado algum êxito artístico ou não, a Bienal certamente pode se congratular por ter conseguido reunir, em um mesmo espaço, poéticas tão distintas entre si de modo a formar um todo harmonioso que justifica, após certa reflexão, o tema da exposição.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Uma Dúvida...


Tenho certa dúvida quanto aos critérios de avaliação de obras de arte em nossa era. Sei bem que não podemos nos iludir e acreditar que os mesmos parâmetros adotados pelos modernistas nos sejam de grande valia, muito menos o estilo vasariano, pois cada qual dava conta de seus respectivos modelos de arte. Nossa arte é caracterizada pela tão comentada multiplicidade. Não há um meio por excelência, não há um estilo definido que se considere o definitivo, ao contrário, de esculturas de mármore à masturbação, passando por galinhas decapitadas e quadros a óleo, tudo realmente pode ser arte.

Mas nem tudo é.

Suponhamos, ao estilo de DANTO (2005), dois artistas imaginários com obras visualmente idênticas, ou ao menos muito parecidas, que estejam ainda em fase de assimilação pelo sistema das artes. Não discutirei aqui a qualidade das obras ou dos nossos pretensos artistas, quero focar os critérios de inserção no sistema.

Os dois apresentam, cada um, uma pedra irregular pouco maior que um punho médio. A primeira não foi “batizada” pelo artista, o que nos obrigará a chamá-la: sem título. À segunda, o seu criador deu o nome de Materialização I. Ambos levam sua obra a galerias, salões, concursos de arte e assim por diante na esperança de ingressarem no mundo das artes, apesar de que, independente do crivo das instituições, os dois têm convicção de que são grandes artistas.

Sem Título trata de uma experiência pessoal de seu idealizador, expressa como seu coração se tornou duro e seco – como pedra – após seguidas desilusões amorosas e traumas familiares, mas que mesmo a partir da aridez de sua vida é possível criar algo transcendente, puro e, estranhamente belo, como ele acredita que deva ser a arte.

Materialização I é uma “clara” alusão ao famoso poema de Carlos Drummond de Andrade, e se propõe a ser, uma referência aos encalços que encontramos no nosso caminho e, ao mesmo tempo, abrir margem para inúmeras interpretações, ao gosto do fruidor, que deve participar da obra com suas experiências pessoais para que esta alcance pleno efeito, e, concomitantemente, é tão somente uma pedra e nada mais, como, ironicamente, afirmou o poeta (e, certamente, seria o que o nosso artista responderia ao ser interpelado a respeito do significado de sua obra).

Por alguma razão, o segundo artista nunca conseguiu o desejado reconhecimento, enquanto o primeiro já está realizando inúmeras coletivas e conseguiu até uma individual em Nova Iorque. Não se sabe se este tem algum laço de amizade com um grande galerista que facilitou sua vida, se os lugares aonde ele levou sua obra contavam com avaliadores mais sensíveis que os locais aonde o outro artista apresentou a dele, ou, ainda, se teve a sorte de conhecer um colecionador que verdadeiramente apreciou sua obra e a comprou por uma quantia que a fez se tornar valiosa, ou ao menos interessante.

São inúmeras as possibilidades que inserem uma obra no meio artístico e expurgam outra. Seja como for, o visitante de uma exposição ao se deparar com uma pedra sob a efígie Sem Título precisará de muito esforço para apreciá-la ou, ao menos, compreendê-la. Precisará conhecer o artista, entender sua linha de pensamento, suas intenções, ou ignorar tudo isso e estar disposto a, a partir do momento que aceitar que está diante de uma obra de arte – já que pedras não ficam em galerias de arte –, proceder a uma interpretação inteiramente subjetiva, mesmo que ao olhar o “coração de pedra”, por um capricho do destino, relacione-o com o poema de Drummond.

Este relato ficcional – mas não improvável – nos remete ao conceito de coeficiente artístico de DUCHAMP, “uma relação aritmética entre o que permanece inexpresso embora intencionado, e o que é expresso não intencionalmente.” (2008: 73), e ao mesmo tempo revela aquilo que me alfineta meu cérebro, aquela dificuldade em compreender os critérios, que parecem correr o risco de serem vagos, arbitrários, injustos, falhos ou facilmente corruptíveis.

Os motivos que levaram sem título a ser considerada uma obra de arte parecem estar para sempre fora do alcance do público e isso gera desconforto, porém, o outro lado da questão me parece ainda mais perverso: Por que Materialização I não é “Arte”?

Será puramente uma questão institucional, será o acaso, a sorte? Acredito que concluir assim seria esvaziar demasiadamente o debate. Prefiro acreditar que exista algum critério que ainda não se fez claro para mim.

O que separa a arte de todo o resto?

É neste limite que surge a minha dúvida. Sigo estudando, visitando, pensando, mas ainda não achei uma resposta. Pode ser que um dia a encontre, ou pode ser que descubra que em nosso contexto esta pergunta sequer é relevante. O fato é que, enquanto não compreender o que realmente acontece, não cessarei de questionar.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Maldita Corneta!!


Estávamos no quartel, o mesmo amigo de sempre e eu, conversando de pé no alojamento pouco antes do início do expediente. Divagávamos sobre arte e nossa condição, o pouco tempo dedicado ao que realmente interessa e as muitas horas jogadas no lixo...
“Preciso ler Hegel”, ele disse. “Não aguento mais conhecê-lo só por citações!!”
Poucos dias antes, lendo Arthur Danto, tive a mesma sensação. Mas é tanta coisa pra ler (“não vai dar tempo”, como diz a mãe da minha ex-professora de história da literatura).
Pelo que conseguimos ler e vivenciar, nossas impressões sobre arte contemporânea costumam estar em sintonia entre si. Falta saber se elas fazem sentido.
A conversa ia ganhando corpo, estávamos em outro lugar que não lá.

Considerações acerca do desenvolvimento da arte fazíamos
A arte antes da arte, na era dos manifestos, e agora, depois do seu fim
A história como um fio a conduzia
O fio se rompeu
pendendo, um fio separa a arte do que nem arte sabe o que é
Falamos até mesmo de música
Dissonante atonal dodecafonia, mesmo sem saber ao certo do que falávamos
Falávamos, pensávamos

Fragmentos de ideias em espiral
Viajávamos à beça
E concluíamos sem pressa
Entendamos a arte atual
Sem preconceitos, sem arcabouço
Mas tocou a corneta
Fizemos careta
E descemos calados rumo ao calabouço.

***

Hehehe...

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

“Com amor e com medo”*

*Extraído da música “Paranóia” de Raul Seixas.


Passei uns dias em Salvador e confesso que demorei um pouco para me acostumar com a cidade. Fui de ônibus do aeroporto ao Pelourinho – quase 2h entre esperar o ônibus e chegar ao hostel. Fora o café da manhã meia-boca antes de sair de casa, a viagem de avião, a canseira e o fato de estar sozinho, me senti verdadeiramente incomodado com a mendicância institucionalizada que me deu as boas-vindas. Um sem-número de moradores de rua e vendedores de fitinhas coloridas me abordaram insistentemente até que eu conseguisse me hospedar. O mesmo aconteceu quando finalmente, com a barriga nas costas, saí para almoçar e dar uma volta. Já estava com medo de andar sozinho por entre os becos estreitos repletos de sorrisos desesperados. Voltei ao hostel decidido a sair só pra trabalhar (ah! Eu estava viajando a serviço).
Dormi à tarde, comi um hot-dog à noite, fiquei no quarto, dormi, e no dia seguinte acordei com o humor bem melhor e, ao que me pareceu, os importunadores estavam de folga.
Passeei tranquilo pela cidade e descobri que ela é incrível!
Eu estava caminhando por entre páginas de um livro de história. Eu quase pude ver escravos passando por mim, com uma alegria sofrida, uma paz limitada e uma sensação fugaz de liberdade.
Acabei gostando da cidade...
Basílica Nossa Senhora da Conceição da Praia
Então, bem menos carrancudo, dediquei boa parte de meu pouco tempo a conhecer as igrejas da cidade: a Catedral Basílica de Salvador, a N. Sª. da Conceição da Praia, a nada menos do que fantástica Igreja e Convento São Francisco, Ordem terceira de São Domingos etc. e pude, então, confirmar meu medo por  igrejas católicas.
Estas igrejas me obrigam a um olhar enviesado de baixo pra cima, eu sinto que de alguma forma, por algum motivo eu estou errado, uma opressão me cai aos ombros e por pouco não me dobram os joelhos. O eterno lusco fusco do interior refletido nos ornamentos, as imagens, talvez misericordiosas, perscrutando meus passos me inspiram temor e culpa.
Consigo, sinceramente, perceber que a grandiosidade das igrejas reflete a intenção de seus patrocinadores. Acredito que há séculos elas conseguem a piedade e o temor dos fiéis (e, em alguns casos, mesmo dos não fiéis).
Catedral Basílica de Salvador
Observando o esplendor das igrejas, sua riqueza e magnificência, me pergunto se Deus está mesmo presente em todo aquele luxo. O poder econômico, político e social que a Igreja exercia não deixa muito espaço para a religiosidade. O brilho do ouro da “São Francisco” – que em nada reflete a vida escolhida pelo santo – termina por ofuscar o brilho espiritual que deveria emanar da casa de Deus.
A Igreja foi patrocinada pelos poderosos, para ser por eles usada. Os pobres quando podiam assistir às missas o faziam de pé, quase por detrás do paravento.
Contudo, a sociedade era extremamente religiosa, e a despeito de todo o contexto social, os desfavorecidos se espremiam na entrada da nave. Os bastardos, filhos das mucamas com os senhores, desenvolviam o sincretismo em um canto reservado, ao lado da nave.
Em igrejas menos suntuosas, mas igualmente imponentes, o temor a Deus se materializava e inspirava o amor a Ele. Ao prestar a atenção em todo o esforço e sofrimento que os verdadeiros fiéis precisaram enfrentar para ter seu quinhão de contato com Deus passei a valorizar mais a fé destas pessoas. Não importam os artifícios, não importam as verdades e as mentiras, até hoje milhares de pessoas conseguem estabelecer uma relação simbiótica com estes lugares e encontrar paz, conforto e segurança. Ainda que isso possa não ser uma condição ideal, é difícil vê-la como perniciosa.
Sim, eu sinto medo ao entrar nas Igrejas, mas cosigo entender, depois de conhecê-las melhor, que apesar de toda essa inspiração de temor ser de fato intencional, o que prevalece, escondido nas sombras e refletido no ouro, é o amor.
Igreja São Franisco

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Caravaggio no MASP


Este final de semana foi bastante proveitoso apesar de eu ter gasto, ao todo, mais de duas horas em filas. Das quais mais de uma e meia para entrar na exposição "Impressionismo - Paris e a Modernidade", no CCBB. Os outros quarenta minutos foram dedicados à espera de uma vaga na “Caravaggio e seus seguidores” em cartaz no MASP.
Pretendo Compartilhar minhas impressões com relação a ambas as exposições. Sendo que neste post vou me ater àquela com a qual o MASP nos presenteou. É verdade que um conjunto de seis obras pode parecer pouco, mas representa quase 10% do que hoje o mundo conhece da obra do artista. E apesar de nos dar aquele gosto de quero mais, é preciso aceitar que conhecer de perto uma ou duas obras do mestre já seria suficientemente satisfatório.
Sou um tanto suspeito para falar de Caravaggio, já que é comum o fã perder muito de seu senso crítico, mas arriscarei ainda assim, posto que de forma alguma fui o primeiro a considerá-lo um dos maiores mestres de todos os tempos.
São Jerônimo que escreve. 1605-6
 Não vou tentar descrever a sensação que experimentei ao entrar na primeira sala quando com uma leve rotação do pescoço me deparei com o magistral “São Jerônimo que escreve” com aquele manto vermelho saltando das trevas e envolvendo um iluminado São Jerônimo, que nos convence de sua concentração tanto pelo cenho quanto pela mão que segura o livro. Poderia falar das minúcias da tela de mais de 1,50m de largura, de cada detalhe representado pelo artista, como o desfiado do manto sob o braço direito do santo, a precisão anatômica, a maestria da pincelada ou o total domínio do claro-escuro, mas a sensação de me deparar com tudo isso de uma vez é, simplesmente, indescritível.
Medusa Murtola. 1597
Caravaggio subiu ao Olimpo das Artes. Qualquer estudo básico da História da arte acaba despendendo um tempo significante para apresentar o artista. Mas apesar de já assim tão sedimentado e digerido, o trabalho de Caravaggio não passa a nossos olhos como uma bela pintura, pacificada pelo costume, e sim como um golpe que nos obriga ao contraste. É bela, porém feia; Um prazer, porém soturno; É treva mas também é luz. Sua obra não vem nos contar algo, ela grita! Obriga-nos a olhá-la e nos petrifica, tal qual a cabeça da Meduza. Uma das obras mais incríveis que tive o prazer de experimentar.
Os quadro deste mestre barroco dispensa explicações. Não há Wölfflin que destrinche sua estrutura formal ou Argan que analise o poder de persuasão de sua imagem, pois a intenção do artista, sua experiência de vida, o drama da cena, tudo explode na superfície da tela e fulmina o observador, atravessando retina e espírito. Antes que se dê conta ele foi atingido e enquanto, ofegante, se recupera do baque processa as informações e intensifica sua relação com a obra.
Estes objetos são indiscutivelmente tidos como obras de arte, mundialmente conhecidos e apreciados, mas por quê? Thomas Mann, em seu livro Morte em Veneza, com complexa simplicidade esclarece: “As pessoas não sabem por que elas tornam famosas uma obra de arte. Sem o menor conhecimento de causa, julgam descobrir centenas de méritos para justificar tamanho apreço; mas o verdadeiro fundamento de seu aplauso é algo imponderável, é simpatia.”
Simpatia, bem entendido, não é um mero gostar casual, mas um deixar-se seduzir sem perceber, devido à força de atração que o objeto sedutor emana. Quem simpatiza se sente à vontade, se interessa, busca um maior contato. A simpatia inicial pode se tornar amizade verdadeira, pode se transfigurar em amor.
São João Batista alimentando o cordeiro. 1605-10
Ao nos depararmos com seu “São João Batista alimentando o cordeiro”, antes de analisar o quadro e interpretar a cena, nós simpatizamos com ele, captamos tristeza, solidão, melancolia, elementos que transcendem a mera ilustração e que permitem uma relação íntima entre público e obra.
Conhecer o quão conturbada e intensa foi a breve vida do artista, entender as propostas do barroco e sua contextualização contra-reformista, bem como reconhecer as passagens bíblicas captadas em muitas das telas deste “gênio da pintura” pode ser ideal para que se frua as obras em sua completude. Mas o que as transformam em obras-primas, criações de um verdadeiro artista, é poder dispensar tudo isso.
São Francisco em Meditação. 1606

São januário degolado ou Santo Agapito. c.1610

Retrato do cardeal (Benedetto Giustiniani?). 1599-1600

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Um encontro de bar

Dia desses fui a um bar chamado "Livraria da Esquina". Lugarzinho interessante, que apresentava como parte da decoração uma estante com livros (não sei por quê... rs). De brincadeira, pra tirar uma foto (como todo mundo que vai lá já deve ter feito) peguei um livro e fiz que estava lendo. Nessa, acabei captando um fragmento que me interessou, então fui ver sobre o que tratava aquele livro escolhido ao acaso.

O destino quis que eu escolhesse justamente um livro que versa sobre arte... O título é "Domingo dos Séculos", obra de um dos organizadores da Semana de Arte Moderna, Rubens  Borba de Moraes, de quem eu, honestamente, se já havia ouvido falar, não me lembrava.
Esta coincidência não poderia passar batida.


Vou reproduzir o texto de orelha do livro de 1924:


"Queixam-se os críticos de que a arte moderna é sem pés nem cabeça, não tem começo nem fim. Erro de compreensão. Só têm pés e cabeça os animais, começo e fim as viagens de estrada de ferro e o dinheiro do bolso. Este último, principalmente, parece que só tem fim.
Começo e fim, cabeça e pés são apetrechos inúteis na vida intelectual. Em arte não há começo nem fim. Ela começa antes dos fatos descritos e continua depois de  fechado o livro.
A arte moderna não é um instantâneo, em que o transeunte fica com o pé no ar. É uma fotografia animada, onde os bondes batem as campainhas, os automóveis buzinam, os corretores correm da bolsa ao telégrafo e as mulheres, lindas porque sabem se despir, olham e sorriem."

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Pós-graduação em "Museologia, Colecionismo e Curadoria”.

 O Centro Universitário Belas Artes de São Paulo oferece o curso de Pós-graduação, com início em 06 de agosto de 2012.

"O curso de Museologia, Colecionismo e Curadoria fornecerá dados e conceitos que vão tratar desde as origens do colecionismo até as formas mais especializadas de mediação cultural por meio de ações museológicas dando destaque às práticas curatoriais.
Sua preocupação central será fornecer aos alunos tanto aspectos teóricos quanto a participação em vivências museológicas e curatoriais. Serão estimulados a participar de ações que envolvem a mediação cultural institucional em relação às artes visuais."

Mais informações no site!

Logicamente, não posso dizer se o curso é bom ou não. Mas, se eu estivesse com condições  ($$ rs), certamente arriscaria. Quem sabe mais pra frente... rs

terça-feira, 17 de julho de 2012

ANTONY GORMLEY - Corpos Presentes


Fui à exposição de Gormley no CCBB-SP, e me arrependi de ter deixado pro último dia...
Gostaria de poder voltar mais vezes e de poder indicar para os meus amigos e para os leitores fantasmas do meu Blog.
Foi uma experiência estética incrível; E justamente para defender a força da experiência não vou escrever sobre o artista ou a exposição, vou apenas apresentar
UM POUCO DE ANTONY GORMLEY.

Mas antes... uma coisa que me chamou a atenção foi a interação das pessoas com as obras. Então, quero deixar pra vocês alguns corpos presentes...










sábado, 14 de julho de 2012

150 anos de Gustav Klimt





Eu sou um pintor que pinta dia após dia, 
de manhã até a noite... 
quem quiser saber alguma coisa sobre mim... 
deverá olhar atentamente minhas pinturas.”
Gustav Klimt





Há exatos 150 anos, em 14 de julho de 1862, nascia em Baumgarten, nas proximidades de Viena, Gustav Klimt, filho do gravador profissional Ernst Klimt e de Anna Finster, uma malsucedida performista musical, sendo o segundo numa linha de sete irmãos. Devido a dificuldades financeiras a família mudava constantemente de endereço a fim de minimizar os custos, o que não conseguia evitar a pobreza em que viviam.
Aos catorze anos de idade Klimt passou a frequentar a Escola de Artes e Ofícios de Viena, onde já se destacou, junto com seu irmão Ernst e o amigo Franz, pelo talento. À época, seu estilo era influenciado pela obra de Hanz Makart.
A partir de 1880 os três auxiliavam os professores na pintura de murais, o que levou Klimt a iniciar uma prestigiosa carreira como pintor histórico, em que decorou inúmeros murais de instituições públicas. Em 1888 foi condecorado pelo imperador Franz Josef I, da Áustria, pela sua significativa contribuição na decoração do Teatro Nacional.
Entre 1891 e 1897 Klimt foi filiado à Sociedade Cooperativa dos Artistas, uma associação que oferecia garantias aos artistas, mas que era conservadora demais, o que o levou a fundar junto com outros membros a Associação dos Artistas Visuais Austríacos, mais conhecida como Secessão, que com sua revista Ver Sacrum desempenhou um papel fundamental na difusão dos preceitos do modernismo, com a diferença fundamental de não enquadrar a arte em escolas e movimentos, mas buscar uma integração – não é sem razões que Klimt pode ser associado tanto ao Simbolismo quanto ao Art Noveau. Este esforço foi apoiado pelo governo que providenciou um espaço para que o grupo expusesse o trabalho de jovens artistas locais e de grandes artistas estrangeiros.
O grupo elegeu como símbolo Pallas Athena, Deusa Grega das causas justas, sabedoria e dos artistas, pintada por Klimt em 1898, em um estilo próprio e já bastante radical.
Pallas Atena, 1898
Em 1899 Klimt foi convidado a decorar a sala de música de Nikolaus Dumba, um rico industrial, confirmando a boa fase em sua carreira.
Filosofia, 1900
No mesmo ano, Klimt definiria seu estilo com a obra Nuda Veritas, em que consta na parte superior a inscrição da seguinte frase de Schiller: “Se você não pode agradar a todos com sua arte, agrade a poucos. Agradar a muitos é ruim.” Este mote o perseguiria por toda a vida, pois, deste momento em diante, poucos compreenderiam sua obra.
Em 1900 ao apresentar, Filosofia, o primeiro de uma série de três trabalhos pelos quais foi comissionado para decorar o Hall da Universidade, obteve o desprezo do público e da crítica. Mal-estar que se agravaria ao mostrar os seguintes, Medicina e Jurisprudência, gerando um processo impetrado pelo congresso que resultou na sua incriminação por pornografia e perversão excessiva.
Depois disso, ele resolveu nunca mais aceitar trabalhos oficiais, pois barravam sua liberdade criadora. Dedicou-se a seguir apenas seus próprios padrões e não se intimidou nem um pouco com a péssima receptividade que suas obras alcançavam, ao invés, optou por mostrar o traseiro a seus críticos, com a obra Goldfish, que segundo dizem iria se chamar A meus críticos.
Goldfish
Por volta de 1906 ele inicia sua fase dourada – apesar de seu prenúncio datar de sua Palla Atenas -, e recupera a aceitação da crítica, sendo reconhecido como um grande artista. Durante este período o artista passa a ver os ideais apregoados pela Secessão como uma utopia ultrapassada e decide abandonar o grupo. Sua fase dourada termina no final da primeira década do século XX, quando ele entra em contato com o expressionismo e com a obra de Toulouse-Lautrec.
Klimt faz uma perfeita união de elementos da arte tradicional e moderna, aproveita-se de elementos da antiguidade egípica e da era bizantina. Arte e decoração se fundem. Sua obra é um compêndio que ganha vida e se transforma em algo absolutamente original.
Sua maior contribuição, no entanto, foi a sexualidade na arte. Suas obras exalam sedução e erotismo sem, contudo, apresentarem a carga pornográfica que lhe foi atribuída no final do século XIX. Seus quadros são povoados por mulheres longilíneas, etéreas e autosuficientes, normalmente em poses sedutoras habitantes de um mundo repleto de símbolos associados ao sexo e à reprodução, como sêmen, óvulos, pólen e pistilos.
Mesmo ao pintar respeitosos retratos de mulheres, seu tema preferido estava presente, pois como foi detectado ao contato com sua inacabada Noiva, suas modelos eram pintadas nuas e só depois vestidas com tinta (e folhas de ouro quando era o caso).
De forma bem mais contundente que sua pinturas, seus desenhos mostravam a importância dada ao erotismo e à sexualidade feminina. Muitos deles ainda hoje poderiam ser considerados pornográficos. Dizem que seu apetite sexual era inesgotável, e felizmente para nós, se traduziu em um apetite para a arte, resultando em um conjunto de obras que figuram entre as mais belas da história da arte.
Em 6 de fevereiro de 1918, Klimt faleceu vítima de pneumonia epdêmica, deixando 14 supostos filhos, dos quais 3 foram reconhecidos por ele.
Apesar da inconstante popularidade de Gustav Klimt em vida, atualmente é um dos artistas mais venerados e mais caros. Muitos de seus quadros alcançaram postumamente preços milionários, e um deles, o retrato de Adele Boch-Bauer I, foi vendido em 2006 por $135.000.000,00, alçando à época o posto de segunda pintura de maior valor no mundo.



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