sexta-feira, 26 de outubro de 2012

30ª Bienal - Primeiras Impressões



Meu filho Heitor curtiu a obra da alemã Katja Strunz!


Tenho lido bastante sobre arte contemporânea, buscando cada vez mais referências, acreditando estar me aproximando de um entendimento verdadeiro acerca do assunto. E pelo que posso entender, um excelente ponto de partida (que sugiro a todos) para um convívio adequado com as obras que compõem nosso cenário artístico é abrirmos mão da ideia de arte que vigorou desde o Renascimento até o último suspiro do Modernismo e da qual, de forma geral, sentimos dificuldade de nos desvencilhar, a saber, aquela noção desenvolvimentista que aponta um tipo de arte como melhor que o seu predecessor, ou ainda, como a Arte Definitiva. Uma ideia que traz em seu cerne um louvor ao apuro técnico, à originalidade do artista, à obra de arte única e, finalmente, à autonomia da arte, apoiando-se normalmente no binômio pintura-escultura.

Toda esta teoria em absorção me leva a compreender que, passada a era dos manifestos, não faz sentido esperarmos uma definição rígida e excludente para a arte. Uma vez que não há por que proclamar determinado modo como o modo certo de se fazer arte, toda e qualquer experiência pode reivindicar para si o status de arte. Como insiste Arthur Danto, a Pop Art trouxe à tona a autoconsciência filosófica da arte, que não mais precisava sair a busca de definições – o que foi ratificado pelos artistas conceituais como Joseph Kosuth, que assumiam cada nova obra de arte como uma definição em si – garantindo assim uma liberdade sem precedentes que implicou na multiplicidade de práticas artísticas não excludentes entre si. Uma bela pintura à óleo pode conviver com vídeos e readymades sem o menor constrangimento.

Aprendi com Leo Steinberg que em face de novas formas de arte devemos adotar novos critérios de apreciação. Inúmeros autores afirmam que a estética não está mais no centro da prática artística. Hans Belting e Arthur Danto enxergam que estamos em um momento que a arte se desvinculou da história, não precisando mais se apegar ao que o último chama de narrativa mestra. Já li que a arte não tem necessariamente que ser expressiva, educativa, política, subjetiva, contemplativa, provocadora ou o que quer que seja. Mas, ao mesmo tempo, pode ser tudo isso. Mais do que nunca a assertiva de Jorge Coli de que “dizer o que seja arte é coisa difícil”, parece a melhor definição possível. Em síntese, devemos esperar tudo quando vamos a uma mostra de arte contemporânea.

Contudo, nenhuma teoria foi capaz de me preparar, de fato para a prática. A 30ª Bienal de Arte de SP trouxe o que a meu ver é a característica central da prática artística contemporânea, o caráter plural e aparentemente inesgotável das poéticas.
monumento meio enterrado à deriva continental, de Thiago Rocha Pitta
Preciso ser sincero, minhas três primeiras visitas – que me possibilitaram chegar ao primeiro quarto do segundo andar, ainda assim pulando alguns vídeos para serem visto em uma próxima oportunidade – se mostraram uma experiência maravilhosamente sofrida. Posso contar pouco mais de uma dúzia de artistas que despertaram em mim a impressão de estar diante de obras de arte, seja devido a meu gosto pessoal pelo desenho, como no caso de Eduardo Stupía, ou pela ironia e sagacidade de uma Ilene Segalove, pelo misto de deslumbramento, estranhamento e inquietação causado pela obra de Icaro Zorbar, o impacto causado pelo monumento meio enterrado – amplificado por seu posicionamento estratégico – de Thiago Rocha Pitta, que nos remete de imediato a um vislumbre do poder da natureza, ou pela inteligência política e social das células de Absalon e o caráter instigante das obras Juan Luis Matínez, entre alguns outros. A maioria das obras ou não me inspiraram o menor desejo de contato ou se mostraram desinteressantes depois de frustrantes tentativas de diálogo. E não por eu estar esperando me deparar com cristos crucificados, girassóis ou damas exaustas do Moulin Rouge. Fui à Bienal livre de preconceitos e pronto para experimentar o novo.

Algumas obras, independentemente de qualquer teoria, simplesmente não me inspiraram confiança, principalmente após ler o breve resumo das ideias do artista afixado na parede. Muitas me pareciam forçadas mesmo.

Vale ressaltar que esta é apenas a minha primeira impressão, e que adotei como estratégia de investigação e descobrimentos, fazer uma sequência de visitações guiadas por um contato desprovido de informações prévias, contando apenas com o que estiver disponível no próprio espaço expositivo, para depois fazer uma pesquisa sobre alguns artistas – os que mais chamaram minha atenção, positiva ou negativamente – e na sequência experimentar algumas visitas guiadas.

Seja como for, já pude perceber que quer os artistas, individualmente, tenham alcançado algum êxito artístico ou não, a Bienal certamente pode se congratular por ter conseguido reunir, em um mesmo espaço, poéticas tão distintas entre si de modo a formar um todo harmonioso que justifica, após certa reflexão, o tema da exposição.

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