Mapa, 1961 |
Números coloridos, 1953 |
Os
preceitos e as qualidades visuais do Expressionismo Abstrato –
movimento em voga no início de sua carreira – não são
descartados, e sim aproveitados na medida do interesse do artista,
que os manipula e destila, retirando o que julgava ser um excesso de
subjetividade e inserindo uma inesperada e, de certa forma, estranha
objetividade. No lugar do turbilhão de emoções do artista, objetos
ordinários. Ele afasta a obra de seu criador e a aproxima de seu
receptor, não sem exigir deste um esforço naturalmente exigido por
qualquer grande obra de arte.
Sublinho
um possível estranhamento em sua obra visto que os objetos
apresentados e facilmente reconhecíveis operam no plano inteligível
uma transfiguração. Suas séries de alvos e bandeiras exemplificam
isto de forma perfeita. A bandeira dos EUA constitui-se de um pedaço
retangular de tecido sobre o qual é aplicada tinta em forma de
listras, um quadrado e estrelas, assim, as “Bandeiras” de Johns podem
ser encaradas como bandeiras presas a um chassi. Ou podem ser
simplesmente compreendidas como pinturas abstratas geométricas. Ou
algo novo que de fato não conhecemos.
Bandeira, 1954-55 |
A respeito disso o próprio artista diz:
“Há duas maneiras de interpretar os meus quadros da bandeira americana. A primeira é: 'Ele pintou uma bandeira de forma a que não a vejamos como uma bandeira, mas sim como um quadro.' A segunda é: 'A maneira como ele pintou a bandeira faz com que não possamos vê-la nem como uma bandeira nem como um quadro.'”
“Há duas maneiras de interpretar os meus quadros da bandeira americana. A primeira é: 'Ele pintou uma bandeira de forma a que não a vejamos como uma bandeira, mas sim como um quadro.' A segunda é: 'A maneira como ele pintou a bandeira faz com que não possamos vê-la nem como uma bandeira nem como um quadro.'”
Na
verdade, os objetos banais não são seu tema, são o meio. Seu tema,
creio eu, é a própria percepção. Suas obras são um convite à
reflexão e à fruiçao estética. Johns não aponta a direção ele
apenas sai do caminho e dá passagem, seguir em frente é problema
nosso.
***
Armadilha II, 1973 |
A
reprodutibilidade inerente às gravuras possibilita uma vasta gama de
experiências e resultados que estão em consonância com a idéia de
Johns de que a melhor crítica a uma imagem é outra imagem. O que
fica evidente ao observar a sucessão de impressões de uma mesma
matriz com tratamentos ou posicionamentos diferentes. A mesma imagem
sendo revista e transformada.
De
todas as séries apresentadas a que mais me instigou foi a 0-9,
porque um artista não se daria o trabalho de fazer três séries de
gravuras tendo aparentemente como tema uma sequência numérica
lógica e previsível simplesmente para nos mostrar números. O modo
como vou encarar esta obra, citando Steinberg, “testa minha coragem
pessoal.” Foi preciso aguçar os sentidos e me preparar para uma
experiência nova.
0-9, 1963 |
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