segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Polke no MASP


Vou abrir o Blog com a exposição que fechou meu 2011 (e fechou bem, diga-se de passagem). Aproveitei, no meu recesso de fim de ano, uma terça-feira abafada para ir ao MASP sem gastar o dinheiro que não tinha sobrevivido ao Natal.
Confesso que não conhecia Sigmar Polke (1941-2010), mas foi um prazer vê-lo de perto. Suas obras têm uma familiaridade estranha e desconcertante que nos impele a pensar nas relações cotidianas que travamos com o mundo.
Sem Título (impressão escolar), 1972
Segundo o texto de apresentação da exposição Sigmar Polke – Realismo Capitalista e outras Histórias Ilustradas, ele entrou firme na cena artística nos anos 60 quando, com Gerhard Ritcher e Konrad Fischer, realizou uma performance intitulada Realismo Capitalista, que mais tarde batizou um movimento que ironizava o Realismo Socialista da União Soviética e questionava a postura acrítica da arte ocidental, que aderira aos valores e vetores do mercado, fortemente representada pela arte pop.
Casa de Final de Semana, 1967-68
A primeira obra que vi na exposição foi Casa de Final de Semana, 1967-68, que me remeteu àquela sensação agradável de se passar um fim de semana tranqüilo em uma casa de campo ou de praia – acho que isso foi minha necessidade de férias falando. Mas, ao passo que as obras dialogavam comigo, deixavam transparecer um inegável sarcasmo, que se manteve presente independente das mudanças de estilo adotadas pelo artista. 
Sua obra que de início apresentava ligações estéticas com a pop, passou fluidamente por pesquisas conceituais, de campos de cor e apropriações do construtivismo. Contudo, padrões que a priori remetem à arte pop, como imagens retiradas de periódicos, cartoon, cartazes, tipo de impressão, e o uso de pinceladas em forma de retículas, continuaram presentes em sua produção, mesmo por que uma forma interessante de se abordar o cotidiano é se valer do repertório imagético deste. O que o distancia dos artistas pop, no entanto, inicialmente é a sua abordagem mais contundente dos temas, abordagem esta inundada de um caráter contestatório, que o tornou um dos artistas mais ativos não só na história da arte, mas na história de seu tempo. Para além desta percepção, a distinção fica clara ao perceber que seu estilo não é engessado, sua única constante é a experimentação. Ele transita entre pintura, desenho, fotografia, colagem, diversos tipos de impressão, se vale da palavra escrita, e mesmo sua utilização das retículas, tão caras à pop, se faz de maneira transcendental, eu diria, pois ela deixa de ser recurso pictórico para se transfigurar em matéria plástica, em mais um elemento a ser pesquisado, experimentado e extrapolado.
Sedução de Filme
O que chamou minha atenção foi o fato de encontrar beleza em meio a comentários agudos acerca da crueza de nossa sociedade. Cores vibrantes e lindas formas coexistem com mendigos e cenas de destruição. Uma combinação de sensações díspares coincidia com a impossibilidade de se categorizar Polke, um artista tão múltiplo quanto a própria arte contemporânea.
A curadoria caprichosa de Teixeira Coelho e Tereza de Arruda facilitou a fruição, com um texto de apresentação impecável e salas que conseguiram separar em nichos, na medida do possível, a grandiosa produção mostrada. Grandiosa tanto em qualidade quanto em quantidade, já que contava com mais de 200 trabalhos, incluindo os originais da série Day by Day, premiada na XIII Bienal de Arte de São Paulo, quando apresentada em formato menor, e que configura um espetáculo cítrico à parte.
         A única ressalva que faço é para a falta de tradução de alguns trechos – o que ocorre em todas as exposições que já fui – já que a palavra é parte importante da obra de Polke. Mas, nem de longe, este fato atrapalhou o desempenho da mostra, que possibilitou aos brasileiros um encontro inesquecível com um dos ícones da arte alemã.
         Quem ainda não viu a exposição corra que ainda dá tempo! Ela fica em cartaz até o dia 29 de janeiro.

3 comentários:

  1. Oi amigo querido...adorei seu blog!!! seja bem vindo ao mundo dos blogueiros...kkkk
    vou passar sempre por aqui viu? e please passe lá no meu também!
    Será muito bom compartilhar um pouco de arte com vc!
    beijos

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  2. Valeu, pessoal!!
    Aí, Mari, minha amiga blogueira!! Já sou presença frequente no cenário artístico!!

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