por Mayara Schneider
em 19 de novembro de 2013
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Untitled Film
Stills #3
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Untitled Film Stills
é uma série fotográfica da artista norte americana Cindy Sherman. Produzido no
período de 1977 à 1980, o trabalho consiste em 69 imagens preto e branco, impressas
em papel gelatina, no tamanho aproximado de
19 cm x 24 cm. Nelas Sherman se retrata vestida de personagens
criados e encenados em ambientes que lembram cenas de um filme. Esta é considerada
uma de suas realizações mais importantes e foi responsável pela consolidação de
sua carreira internacionalmente. No Brasil, uma seleção desta obra foi
apresentada no pavilhão da Bienal no ano de 2011, junto com seus trabalhos mais
recentes em uma sala exclusiva. A exposição, chamada Em nome dos artistas, propôs exibir os maiores representantes da
arte norte-americana contemporânea. Desde
dezembro de 2005, a série completa pertence ao MoMa, sendo portanto, preservada
sua identidade como um todo.
As fotografias tem como elemento
principal uma figura feminina única como se pode ver em Untitled film Stills #3, deslocada à direita, e Untitled film Stills #21, onde ocupa um espaço central. Em ambas está
representada entre o plano médio e o primeiro plano; tanto na linguagem
fotográfica quanto cinematográfica estes enquadramentos mostram um único
sujeito recortado pela região do quadril à cabeça e pela região do ombro à
cabeça. A segunda parte da composição é o fundo da imagem, sendo os planos
aproximados da protagonista tanto no ambiente urbano (#21) quanto no ambiente
doméstico (#3). Outro ponto a ser observado são os objetos secundários e o
próprio fundo que aparecem na composição levemente desfocados. Estes traços
suaves bem como a escala de cinzas permitem que a figura principal se destaque
com pouco contraste num jogo de luz e sombra em que se vê o conteúdo com
clareza e tem-se a sensação de unidade.
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Untitled Film Stills #21 |
Nas duas obras selecionadas, as
personagens olham para fora do quadro sugerindo outras pessoas, objetos ou
situações que não se pode observar dentro do recorte. Este recurso ativa o
imaginário e permite que uma história possa ser inventada por cada um dos
espectadores, fazendo com que se construa imediatamente um sentido próprio.
Esta sensação é reforçada através do reconhecimento da personagem como uma
mulher possível, onde a identidade de Sherman se dissolve e dá lugar à uma
heroína anônima. Carregada de clichés, como a linguagem corporal, a expressão
facial e o drama, fica clara a suspensão do tempo de uma narrativa que começou
e continuará além do momento da imagem fotografada, passando a impressão de um
trecho especialmente selecionado de um filme ou de uma telenovela. Sua textura
granulada, similar a uma impressão de jornal, de fato faz lembrar a fotonovela,
a qual a artista buscou inspiração para a realização do projeto.
Existem diversas outras
configurações entre planos e essas personagens femininas ao longo da série,
sempre retratadas como figura única e principal, recortadas de um tempo ativo e
em sintonia com o plano de fundo.
O título Untitled Film Stills evoca duas questões: a primeira é a ideia do
fotograma, que se caracteriza por uma imagem individual de um filme e portanto
pode se relacionar com a produção cinematográfica. Outra questão é o uso da
palavra Untitled (Sem título) e o uso
de números para diferenciar as fotografias entre si. Este ponto é esclarecido
por Sherman, que diz evitar colocar títulos nas imagens para preservar a sua
ambiguidade.
Toda a produção da obra é realizada
pela artista que assume as funções de câmera, modelo, maquiadora e figurinista.
Assim como Cindy Sherman representa os muitos papéis figurados em suas imagens:
a dona de casa, a atriz, a bibliotecária. Estaria ela tentando representar os
diversos papéis sociais existentes em cada pessoa?
Cindy
afirma ter tido o hábito de quando criança se vestir e inventar mulheres que
ela só podia ser no mundo da fantasia. Pode-se compreender este tempo de
fantasia com o tempo de duração do trabalho, este dividido entre: o momento
limitado da produção e o de permanência através do registro. A obra tem um
grande impacto e perdura ao permirtir que um desejo seja materializado através
de um fotograma que registra os fragmentos por vezes ocultos em cada indivíduo.